INTERNACIONAL - TAXAÇÃO - Montadora britânica anuncia suspensão de embarque de veículos para os EUA

EUA pode ficar sem Jaguar Land Rover, a montadora britânica anunciou que irá suspender temporariamente os embarques de veículos para os Estados Unidos, após a entrada em vigor das novas tarifas de importação determinadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A medida, comunicada nesta sexta-feira, responde à tarifa de 25% sobre carros importados, uma das principais bandeiras econômicas da nova fase do governo Trump, que iniciou seu segundo mandato em janeiro de 2025. Segundo reportagem da BBC News, a Jaguar Land Rover declarou que está "reavaliando os novos termos comerciais" e buscando alternativas para lidar com os impactos da taxação. A fabricante não é a única a reagir. A Stellantis anunciou a paralisação temporária de sua planta de montagem em Windsor, no Canadá, enquanto a japonesa Nissan cogita transferir parte da produção para os Estados Unidos. A União dos Trabalhadores Automotivos (UAW), por sua vez, apoiou publicamente os novos impostos, alegando que eles favorecem a indústria nacional. Trump, que já descreveu a palavra "tarifa" como a mais "bela do dicionário", defende a taxação como uma ferramenta para impulsionar a indústria local, combater o déficit comercial e atrair investimentos. "Hang tough", escreveu o presidente em sua rede Truth Social, referindo-se à queda abrupta dos índices de Wall Street após o anúncio das tarifas. "Não será fácil, mas o resultado será histórico", prometeu. A política tarifária é ampla: todas as importações passam a ser taxadas com pelo menos 10%, enquanto países como China, União Europeia, Reino Unido e Brasil enfrentam alíquotas ainda mais elevadas, com aplicação escalonada a partir de 9 de abril. A tarifa sobre veículos importados entrou em vigor imediatamente. As reações internacionais foram contundentes. O Ministério das Relações Exteriores da China acusou Washington de usar tarifas como "arma para suprimir a economia chinesa", e anunciou medidas retaliatórias, incluindo uma tarifa de 34% sobre produtos norte-americanos. O Japão também foi atingido com uma tarifa de 24%, o que motivou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba a solicitar um diálogo direto com Trump. Na Europa, líderes como o premiê britânico Keir Starmer e o presidente francês Emmanuel Macron emitiram uma nota conjunta afirmando que "nada deve ser descartado" em resposta às tarifas, alertando para o risco de uma guerra comercial global. Paralelamente, uma onda de protestos se espalhou por cidades como Boston, Washington, Londres, Paris e Berlim. Em Boston, ao som de tambores da era da Revolução Americana, milhares marcharam sob chuva fina. "O país está em um lugar assustador agora", afirmou uma manifestante de 82 anos à BBC. Já em Londres, a americana Alyssa disse que os EUA estão "dilapidando a democracia" e promovendo uma crise econômica global. Embora alguns setores produtivos nacionais celebrem a medida, o mercado financeiro reagiu mal. O preço do cobre caiu mais de 5% na Bolsa de Londres, mesmo sendo uma das poucas commodities isentas das novas tarifas. A queda é vista como reflexo do temor de desaceleração econômica global. Para analistas, a estratégia de Trump pode gerar inflação ao consumidor, elevar custos de produção e agravar a crise do custo de vida. O conselheiro presidencial Elon Musk, que participou de uma conversa pública com o vice-premiê italiano Matteo Salvini, disse esperar que Estados Unidos e Europa avancem para uma "situação de tarifa zero". Ao mesmo tempo, criticou as regulações europeias, classificando-as como um entrave à inovação. Enquanto os efeitos práticos das tarifas ainda são debatidos, Trump parece convencido de que os custos de curto prazo valerão a pena. "Se quiser pagar US$ 3.500 por um iPhone, produza nos EUA. Se quiser pagar US$ 1.000, continue fabricando na China", resumiu um analista ouvido pela BBC.A imposição de tarifas como instrumento geopolítico pode colocar os Estados Unidos em rota de colisão com aliados e parceiros comerciais estratégicos. Resta saber se a pressão internacional ou uma reação doméstica mais intensa levará Trump a reconsiderar o caminho escolhido.
Direto da redação. BBC News