REFLEXÃO - Um entendimento básico sobre a Bíblia Sagrada e suas principais versões no Brasil

23/06/2024

A Bíblia foi o primeiro livro impresso na história, além de ser, provavelmente, aquele que mais influenciou a humanidade. Para muitos estudiosos a Bíblia ainda é um fenômeno a ser estudado, um livro histórico com mitos, fatos e uma história que impacta o mundo há anos. Para nós, cristãos, ela é um manual de fé e prática.

Quando decidimos por ter um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, o principal meio para arraigar uma fé sólida é a leitura da Bíblia. Muitas das nossas descobertas pessoais sobre a fé cristã e personagens bíblicos acontecem quando mergulhamos pela história bíblica e nos dedicamos a aprender seus ensinamentos. Mas você já se perguntou sobre a Bíblia? Já se perguntou por que a Bíblia é tão importante para os cristãos?

Quem a escreveu? Como a Bíblia chegou nas nossas mãos hoje?

Porque tantas versões e tipos de estudos temáticos? Qual a melhor?

O que me faz decidir por uma Bíblia de estudo e não outra?

Pensando nessas perguntas vamos percorrer esse universo que é a Bíblia, desvendar suas versões e delimitar qual melhor Bíblia Temática para cada necessidade. Vem com a gente! A Bíblia, para os cristãos protestantes, é autoridade de fé e de prática de vida. A palavra Bíblia significa "Livro" ou "Rolo". A Biblia como conhecemos é na verdade um conjunto de 66 livros divididos em duas partes principais: Antigo e Novo Testamentos. Ela também é chamada de "Escrituras", "Escrituras Sagradas", "Palavra de Deus" e a "Palavra". Segundo Daniel Doriani (autor e professor cristão): "A Escritura é clara o bastante para que qualquer pessoa entenda os pontos essenciais da fé." A Bíblia é mais que mera literatura, ela "É" a Palavra de Deus, por isso é tão importante. Enquanto palavra de Deus, entendemos que toda a Bíblia foi completamente inspirada por Deus em toda sua amplitude. Dessa forma, acreditamos na inerrância das Escrituras, ou seja, não existem erros na Bíblia. Segundo Wayne Grudem (teólogo e autor cristão): "Por inerrância das Escrituras entende-se que as Escrituras nos manuscritos originais não afirmam nada contrário aos fatos." O mesmo Grudem afirma ainda que: "Todas as palavras na Bíblia são palavras de Deus e que, portanto, não crer em alguma palavra das Escrituras ou não obedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a ele. A Bíblia ensina claramente que Deus não pode mentir nem falar falsidade (II Sm 7.28; Tt 1.2; Hb 6.18). Assim, todas as palavras nas Escrituras são declaradas completamente verdadeiras e destituídas de erros, qualquer que seja o trecho (Nm 23.19; Sl 12.6; Sl 119.89 e 96; PV 30.5; Mt 24.35). As palavras de Deus são, de fato, o padrão máximo de verdade (Jo 17.17). Quanto mais somos expostos à Palavra, de coração aberto e buscando conhecer ao Senhor, apresentamos menos desvios éticos e morais. Porém precisamos entender que existe um distanciamento entre o entendimento do conteúdo e nós. Enquanto cristãos, é o Espírito Santo que nos auxilia na leitura bíblica, nos iluminando os ensinamentos propostos por Deus. Quando lemos a Bíblia dessa forma, estamos ouvindo a voz do próprio Deus.

Desde o início da caminhada, o cristão aprende que 40 autores diferentes em diferentes épocas escreveram o cânon completo. Todos esses autores, mesmo sem se conhecer e vivendo em épocas distantes, compuseram uma mesma história. Podemos destacar alguns dos autores mais populares das Sagradas Escrituras, como:

Apesar da variedade, cremos que todos os livros bíblicos foram escritos pelo próprio Espírito Santo, inspirando e conduzindo cada um dos autores. Além da diversidade de autores, a Bíblia traz ainda outra peculiaridade quanto à data de seus escritos. A partir de estudos históricos e arqueológicos sabe-se que a Bíblia foi escrita dentro de um período aproximado de mil e seiscentos anos entre o primeiro escrito e o último. Os textos originais foram escritos em três idiomas: hebraico e aramaico no Antigo Testamento e, grego no Novo Testamento. Foram registrados em papiros e rolos, forma bem diferente de como temos hoje. A Bíblia é canônica, o que quer dizer que segue regras e critérios padronizados para a definição de todos os livros que pertencem a ela. A Bíblia é uma única narrativa, contando uma única história. Se pudéssemos resumir a história contada nas Escrituras em poucas palavras, provavelmente diríamos que. A Bíblia conta a história da glória de Deus e da redenção de uma humanidade caída por meio de Jesus Cristo. É a história da Missão de Deus de restaurar a criação que virou as costas para Ele. A Bíblia protestantes e a mais utilizada nas religiões cristãs, ela segue uma divisão, conhecida pela maioria de nós.

O Pentateuco: é a Torah judaica, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Contam a história da criação, da aliança de Deus com Abraão, o êxodo do Egito e a conquista da Terra Prometida. Estes 5 Livros também revelam a Lei de Deus.

Livros históricos: são os 12 livros que contam a história de Israel após a conquista da Terra Prometida.

Livros de Sabedoria: são livros de ensinos, louvores, meditações, poesias e provérbios, como Salmos, Provérbios e Eclesiastes.

Livros dos Profetas: Em sua maioria são exortações ao povo de Israel. Divididos entre profetas maiores (Isaías, Jeremias e outros) e profetas menores (Oséias, Obadias, Joel e outros) devido ao tamanho dos livros, não por ordem de relevância.

Para o judaísmo essa divisão é a seguinte. O Tanakh Judaico

Os judeus reconhecem a Torah (a Lei de Moisés) que são os primeiros cinco livros da nossa Bíblia.

O Nevi'im (os Profetas) no qual encontramos os escritos dos profetas anteriores e posteriores (dividido entre os profetas antes e depois do cativeiro da Babilônia).

E o Ketuvim (os Escritos) que são os chamados livros históricos.

Já a Biblia Catolica Romana possui alguns livros a mais, os chamados livros apócrifos. que não fazem parte da Bíblia Protestante por não ter seu valor reconhecido como os demais. Embora sejam livros com grande valor histórico, não são considerados como divinamente inspirados.

As três fontes de preservação e reconehcimento para os textos do Antigo Testamento são:

Esses textos atestam a confiabilidade da origem dos escritos. Principalmente pelo grande número de manuscritos recuperados e preservados. Esse é o que conhecemos como o Velho Testamento.

O Novo Testamento foi escrito entre 50 e 95 d.C., marcado pela descrição da vida de Jesus e a organização doutrinária da Igreja. Paulo se destaca como o autor que mais escreve e cria uma sistematização teológica dos ensinos de Cristo. Isto porque ele tinha uma formação erudita e estudou com um dos principais rabinos do seu tempo, Gamaliel. Tanto Protestantes, Católicos e Ortodoxos usam a mesma estrutura de livros do Novo Testamento, que foram estabelecidas por dois critérios:

1. Regra de Fé, que trabalha a conformidade entre o documento e a Ortodoxia. O ensino precisa ser verdadeiro e conforme o que receberam dos apóstolos;

2. Apostolicidade, o qual foi o critério mais comum. Incluir os textos dos apóstolos ou daqueles que andaram com os apóstolos.

Por todas as características singulares que existem na história da Bíblia, são proporcionados argumentos sólidos para a comprovação da sua autenticidade. O número de manuscritos registrados, por exemplo, superam de forma categórica qualquer outro livro da antiguidade! Fatos como esse se estabelecem comprovando que apenas Deus poderia zelar com tanto rigor para que este registro chegasse em nossas mãos.

Mas, e quanto às versões? Qual é a melhor?

As versões da Bíblia dizem respeito às suas traduções. Cada versão é uma tentativa de maior proximidade com o texto original. Os textos originais do Antigo Testamento foram escritos em línguas semíticas, em Hebraico (98%) e Aramaico (2%). Já o Novo Testamento foi escrito em Grego. Uma das primeiras versões conhecida é Septuaginta que foi a tradução da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) para o Grego Koiné (o grego popular). E a Vulgata, que é a tradução da Bíblia para o Latim, por São Jerônimo. Foi a versão mais usada até o século XVI. A maior preocupação do tradutor é ter a certeza que os textos hebraico, aramaico e grego, usados como base para a tradução, estão o mais próximo do que foi escrito pela mão do autor (ou do escriba a quem o texto foi ditado).

Precisamos ter em mente que uma tradução é sempre uma interpretação e possui sua limitação técnica, por isso temos tantas versões. As diferentes traduções levam em conta a língua fonte, língua alvo, distanciamento histórico e equivalência formal ou funcional. A caraterística da versão nos ajuda a fazer uma exegese do texto, ou seja, um estudo da interpretação do conhecimento literário, histórico e cultural. É importante entendermos a diferença entre os dois tipos de tradução:

Equivalência formal: traduz palavra por palavra

Equivalência dinâmica: traduz ideia por ideia

Ambos os métodos têm vantagens e desvantagens. Algumas versões da Bíblia tentam combinar os dois.

Biblia de Gutemberg cópia da Biblioteca Estatal da Baviera acreditase terem sido impressas 180 copias
Biblia de Gutemberg cópia da Biblioteca Estatal da Baviera acreditase terem sido impressas 180 copias

No Brasil, temos hoje várias versões. As principais são:

Almeida Revista e Corrigida – ARC

Ano: 1750

Última Revisão: 2011

Base textual:

Método de Tradução: Equivalência Formal (em Linguagem Erudita)

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa linguagem atualmente é pouco usual por apresentar termos muito eruditos e que já caíram no desuso.

Apesar disso, foi largamente usada por ser a tradução mais antiga da língua portuguesa. Ainda é preferida por denominações conservadoras.

Almeida Revista e Atualizada – ARA

Ano: 1959

Última Revisão: 1993

Base textual:

Método de Tradução: Um equilíbrio entre equivalência formal e dinâmica.

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa é a versão mais usada pelos protestantes. Foi a primeira versão trazendo mudanças significativas em verbetes que caíram em desuso e trouxe uma maior proximidade com a linguagem coloquial. É a linguagem usada por um grande número de bíblias de estudo, (como a Genebra, Sheed, MacArthur) o que a fez ainda mais popular.

Almeida Edição Contemporânea – AEC

Ano: 1990

Base textual:

Método de Tradução: Um equilíbrio entre equivalência formal e dinâmica

Afiliação Religiosa: Protestante

Almeida Corrigida e Fiel – ACF

Ano: 1994

Última Revisão: 2011

Base textual:

Método de Tradução: Equivalência Formal (em Linguagem Erudita)

Afiliação Religiosa: Evangélica Conservadora

Almeida Século 21 – AXXI

Ano: 2008

Última Revisão: 2013

Base textual: Atualização da versão Bíblia Revisada de acordo com os melhores textos no Hebraico e no Grego

Método de Tradução: Um equilíbrio entre equivalência formal e dinâmica

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa bíblia é uma revisão profunda da versão da Almeida Revisada. Mantém a exatidão, tradição e fluência. É a bíblia que uso no dia a dia.

Bíblia King James – BKJ

Ano: 1611

Última Revisão: 2017

Base textual:

Método de Tradução: Em português tem duas edições, sendo a primeira uma tradução literal e a segunda traduzida por equivalência verbal.

Afiliação Religiosa: Igreja Anglicana

É uma versão clássica. Foi originalmente escrita em inglês, a pedido do Rei Tiago (King James), quando a monarquia começou a seguir o anglicanismo. Caracterizada por sua árdua pesquisa e por apresentar diversas variações textuais e possíveis traduções para determinados trechos. Pouca usada no português, por não ser uma versão popular.

Nova Versão Internacional – NVI

Ano: 1991

Última Revisão: 2001

Base textual:

Método de Tradução: Equivalência Formal e Dinâmica

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa é uma versão que não possui a erudição das versões mais antigas, porém mantém termos tradicionais.

Muito usada por biblistas e pregadores.

Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH

Ano: 1988

Última Revisão: 2000

Base textual:

Método de Tradução: Paráfrase — Funcional

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa versão é recomendada para novos convertidos que ainda não têm muita familiaridade com a Bíblia. Usa uma linguagem fácil e acessível.

Bíblia A Mensagem – BM

Ano: 2011

Base textual:

Autor: Eugene Peterson. É uma tradução contemporânea da Bíblia com base nas línguas originais que procura preservar, na linguagem do dia a dia, seus eventos e ideias.

Método de Tradução: Paráfrase

Afiliação Religiosa: Protestante

Essa é uma linguagem extremamente coloquial. Faz a tradução da ideia do texto, e não palavra por palavra. É uma versão interessante para estudo e exemplos, porém precisa ser usada com outra versão para o entendimento bíblico.

Como qualquer versão passa pela interpretação de quem traduz, enquanto este é influenciado pelo tempo e cultura circundante, é interessante ter mais de uma versão para leitura complementar e estudo, a fim de se chegar mais próximo do texto original.

Além das versões tradicionais, existem outras Bíblias que nos ajudam bastante a compreender o texto são as chamadas Bíblias de Estudo. Mas esse será tema de uma próxima reflexão.