MÉTODO OU LOUCURA?

01/09/2019

"Agradecemos ao nosso amigo, Professor Marcos Rodrigues por nos permitir reproduzir em nossas paginas seus brilhantes textos. Este de hoje, realmente nos faz parar para pensar se tudo isso não passa de um método. Leia e chegue as suas conclusões"

Em "Hamlet", de William Shakespeare, duvidando da maluquice fingida pelo protagonista que dá título à peça, o personagem Polônio diz que vê "método" naquela loucura". Polônio era um tolo mas, nesse caso, tinha razão. Havia um plano por trás do fingimento, como o leitor/espectador sabe desde cedo. Hamlet tinha um objetivo e se passou por louco unicamente para chegar onde queria.

Ontem um amigo, ex policial, disse-me que ao chegar ao local de um crime e encontrar todas as provas arrumadas para a solução do caso, desconfiava.

Então, só me resta desconfiar das muitas declarações absolutamente absurdas de Jair Bolsonaro. Seria esta aparência de insanidade e incontinência verbal deliberadas? Parte de uma estratégia? Seria apenas uma cortina de fumaça para ações cruéis que avançam todos os dias? Haveria método na loucura? Talvez.

As declarações de Bolsonaro tornam-se a cada dia mais agressivas e violentas. Já não existe qualquer limite de educação, respeito, decoro. Também não existe compromisso com a verdade, a ética e a moral. O discurso vulgar e virulento somente semeia mais ódio no país e divide a população. Desde as eleições de 2018 são comuns os desentendimentos e rompimentos entre amigos e familiares. Isto agora se estende a vizinhos, colegas de trabalho, e até a pessoas de contato eventuais. O ódio se espalha. Bolsonaro não se detém na prática de intimidar e ameaçar.

Isto tem levado a um desgaste de todos. Pessoas e instituições se exasperam todos os dias com as declarações de Bolsonaro. São levadas a cada dia a reações mais extremadas. Um clima de desentendimento radical avança e se estabelece uma ideia de um enfrentamento inevitável.

E, então cabem as perguntas óbvias? Bolsonaro percebe esta escalada de ódio? Se percebe, por que a alimenta? O que ele ganha com isto?

Seguindo a linha de Polônio concluímos que é exatamente a exasperação geral que Bolsonaro deseja. E, o que fazem pessoas e grupos exasperados? Eles cometem erros !!! Reagem, agridem, enfrentam. Mas, não de forma racional, organizada e coletiva. Reagem de forma passional, isolada, confusa. Isto gera a desordem, o tumulto, a confusão. Por fim, partem para soluções extremas que podem ir do pedido de impedimento de Jair Bolsonaro a manifestações violentas nas ruas.

Seria esta a intenção de Bolsonaro? Criar o caos? O que ele ganharia com isso?

Simples , ele ganharia um pretexto! Um pretexto para declarar um Estado de Sítio, um pretexto para se declarar vítima da tentativa de um golpe, um pretexto para promover milhares de prisões sem processos e sem mandados, um pretexto para fechar associações, sindicatos e órgãos como a OAB e a ABI, um pretexto para fechar tribunais e o congresso nacional! Teria um pretexto para cercear a impressa, calar opositores e suprimir denúncias contra aliados. Bolsonaro ganharia o pretexto para instaurar a ditadura. Tudo em nome da ordem e da Segurança Nacional.

Então, parece que pode realmente haver método na loucura! Parece que as declarações não são tão absurdas e disparatadas. Parece que pode existir um projeto mais organizado e concreto. Desconfiemos de tantas provas!

E como evitar este quadro? Organizando a resistência e a luta. Sem dissensões que não contribuem para a união das forças progressistas. Precisamos organizar uma pauta mínima e única que possa garantir a resistência à ditadura!

Não, não é loucura. É método!

Colaboração. Professor Marcos Rodrigues RJ