DITADURA NUNCA MAIS - Militares envolvidos na morte de Rubens Paiva foram elogiados e até promovidos

A extrema direita teima em comparar o governo do PT como uma suposta ditadura, no entanto foi durante os mandatos anteriores deste governo, que os porões da ditadura foram abertos e documentos chegaram a público. Mais de cinco décadas após o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, novos documentos reforçam a impunidade que marcou o caso. Segundo informações obtidas pela agência de dados Fiquem Sabendo, via Lei de Acesso à Informação, cinco militares apontados pela Comissão Nacional da Verdade como envolvidos na morte de Paiva foram promovidos e, em alguns casos, receberam elogios oficiais mesmo após o crime. Rubens Paiva foi preso em 20 de janeiro de 1971 e levado ao Destacamento de Operações de Informações Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro. Dois dias depois, já não havia sinais de vida. Seu corpo nunca foi encontrado. Durante décadas, o Exército sustentou uma versão falsa de que ele teria sido resgatado por militantes armados durante uma transferência, tese desmentida por investigações e pela Comissão Nacional da Verdade. Varias declarações falam da tortura promovida pelo regime e relatam que muitos presos depois de torturados eram lançados ao mar com peso nos pés, sem chances de escapar da morte, por essa razão muitos corpos permanecem desaparecidos. Entre os nomes revelados nas fichas funcionais estão Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf. Eles teriam atuado de formas distintas no caso: enquanto Perdigão e Sampaio participaram diretamente da recepção e interrogatório de Paiva, os outros três estariam envolvidos na ocultação de seu desaparecimento.
Os registros mostram que:
Freddie Perdigão Pereira foi promovido a major em 1974, três anos após a morte de Rubens Paiva. Encerraria a carreira como tenente-coronel, servindo inclusive como oficial de gabinete da Presidência da República.
Rubem Paim Sampaio ascendeu a tenente-coronel em 1975 e trabalhou como oficial de gabinete do então ministro do Exército antes de ser transferido para a reserva em 1976.
Raymundo Ronaldo Campos tornou-se major em 1973 e chegou à patente de coronel antes de deixar o Exército, em 1984.
Jacy Ochsendorf foi promovido a 2º sargento em 1974 e chegou a capitão antes de se aposentar em 1996, após atuar por mais de 20 anos no gabinete do ministro do Exército.
Jurandyr Ochsendorf virou subtenente em 1976 e alcançou o posto de capitão antes de ir para a reserva em 1994.
Dos cinco, apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam elogios formais após 1971. Todos os demais tiveram registros elogiosos em seus históricos funcionais, mesmo após os fatos relacionados ao desaparecimento do ex-deputado. Rubens Paiva era um parlamentar cassado pelo regime militar e defensor ativo da democracia. Sua história ganhou projeção nacional e internacional com o livro Ainda estou aqui, escrito por seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, inspiração para o filme homônimo estrelado por Fernanda Torres e vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. A Fiquem Sabendo ainda aguarda acesso às fichas funcionais de dois outros nomes-chave no caso: Antônio Fernando Hughes de Carvalho, acusado de envolvimento direto em torturas, e José Antônio Nogueira Belham, então major e comandante do DOI, considerado responsável pela morte e desaparecimento de Rubens Paiva por ter conhecimento e consentimento das práticas de tortura aplicadas nas dependências do órgão. Mais de 50 anos após o crime, o corpo de Rubens Paiva permanece desaparecido e o Estado brasileiro ainda não responsabilizou criminalmente nenhum dos envolvidos. A certidão de óbito, no entanto, foi retificada: consta agora que a morte foi "causada pelo Estado". O caso será julgado pelo Supremo Tribunal Federal com repercussão geral, o que pode abrir caminho para novas decisões envolvendo crimes cometidos por agentes da ditadura.